Inovação e liderança feminina no setor de seguros

O mercado de seguros tem passado por uma revolução impulsionada por avanços tecnológicos, mudanças nas expectativas dos consumidores e novas regulamentações. No centro desta transformação, a liderança feminina tem desempenhado um papel fundamental, trazendo inovação, diversidade e uma abordagem estratégica para os desafios do mercado.

Historicamente dominado por homens, nosso setor tem visto um aumento significativo na presença feminina em cargos de liderança. Empresas que apostam na diversidade de gênero apresentam melhor desempenho financeiro e maior capacidade de adaptação às mudanças.

Mulheres líderes no setor de seguros estão assumindo papéis chaves na formulação de políticas, desenvolvimento de produtos inovadores e implementação de novas tecnologias, como inteligência artificial, machine learning e análise preditiva para gestão de riscos. Além disso, sua presença tem promovido ambientes corporativos mais inclusivos e colaborativos.

A digitalização tem sido um dos principais motores de inovação no setor de seguros, e a liderança feminina tem se destacado na condução dessas mudanças. A ascensão das insurtechs, por exemplo, é impulsionada por mulheres que lideram projetos de automação, personalização de serviços e uso de Big Data para melhorar a experiência do cliente.

Tecnologias como blockchain e smart contracts têm revolucionado a transparência e segurança das operações, áreas em que muitas executivas estão à frente. Essas inovações não apenas otimizam processos, mas também, permitem uma abordagem mais e ciente e ágil para a mitigação de riscos e resolução de sinistros. No entanto, apesar dos avanços, a jornada da mulher no mercado de seguros ainda enfrenta desafios. A equidade salarial, a representatividade nos altos escalões e a necessidade de uma cultura organizacional mais inclusiva são algumas das barreiras a serem superadas.

Muitas empresas já estão implementando políticas para fomentar a liderança feminina, incluindo programas de mentoria, iniciativas de desenvolvimento profissional e redes de apoio para mulheres no setor. Eventos e conferências voltados para a inovação e diversidade no mercado segurador têm proporcionado oportunidades para que mais mulheres compartilhem suas experiências e fortaleçam sua presença no setor.

Empresas que investirem na diversidade e na inovação terão uma vantagem competitiva significativa, não apenas no desempenho financeiro, mas também na construção de uma cultura organizacional mais forte e adaptável às novas demandas do mercado. E a presença das mulheres nessas tomadas de decisões serão cruciais.

A liderança feminina no setor de seguros não é apenas uma tendência, mas uma realidade em crescimento, com impacto direto na transformação do mercado e na criação de um setor mais e ciente, inclusivo e preparado para os desafios do futuro.

“Tecnologias como blockchain e smart contracts têm revolucionado a transparência e segurança das operações, áreas em que muitas executivas estão à frente. Essas inovações não apenas otimizam processos, mas também, permitem uma abordagem mais eficiente eágil para a mitigação de riscos e resolução de sinistros”, Stephanie Zalcman, diretora Técnica de Operações e Estruturação da Wiz Co.

Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) são categóricos: em 1990, a participação feminina no mercado de trabalho era de 34,8% e saltou para 52,2% em 2023. Apesar das oportunidades hoje existentes, as mulheres ainda enfrentam desafios, como a dificuldade de acesso a crédito para iniciar ou expandir o negócio e o preconceito e subestimação no mercado por parte de clientes e concorrentes. 

Presidente da Marsh Brasil, Paula Lopes reconhece que, apesar dos avanços das últimas décadas, as mulheres ainda enfrentam desafios substanciais no ambiente dos negócios. Ela baseia-se em dados do Banco Mundial, que indicam que as mulheres têm 30% menos chances de obter crédito do que os homens, limitando suas oportunidades. “Essa realidade é preocupante, pois a inclusão das mulheres no mundo dos negócios não é apenas um tópico de justiça social, mas também uma questão de oportunidade econômica. A igualdade de gênero poderia adicionar milhões de dólares à economia global”, diz Paula.

Para mudar esse cenário, ela afirma ser fundamental que instituições financeiras desenvolvam produtos de crédito que atendam às necessidades das mulheres e consolidem confiança em toda a rede do negócio. Por mais que tenha havido evolução nas questões ligadas à inclusão, a sociedade não chegou ainda a um patamar ideal de equidade, e que seja estatisticamente indiscutível, observa a presidente da Delphos, Elisabete Prado, para quem ainda há um sentimento geral de que as mulheres precisam “provar mais” em disputas.

“Dentro desse contexto, avalio que debates relevantes sobre o tema precisam ser mais recorrentes por parte dos contratantes, ao mesmo tempo em que as mulheres devem aprimorar seus conhecimentos com muito estudo, muita leitura, autoconfiança, trabalhar bem a autoestima, desenvolver habilidades de influências positivas sobre suas equipes, aprender a fazer uma diligente gestão do tempo e fazer conexões estratégicas com honestidade suprema”, sugere.

Recentemente empossada como presidente do Seguro Pasi, Fabiana Resende alerta que, de uma forma generalizada, o acesso aos financiamentos estão mais difíceis no país devido aos juros mais altos e à desaceleração da economia. A alta da inflação, segundo a executiva, influencia o valor da parcela, que fica mais cara e reflete no aumento da inadimplência, criando ainda mais barreiras para o acesso às linhas de crédito em momentos como o atual.

“Apesar de os níveis de inadimplência serem próximos entre homens e mulheres, infelizmente as mulheres encontram mais dificuldade para acessar algumas linhas de crédito ou até mesmo taxas mais altas em alguns financiamentos”, reconhece Fabiana.

Em contrapartida, pondera a executiva, existem linhas de crédito específicas em algumas instituições que dispõem de soluções específicas para mulheres empreendedoras em diversas áreas.

“É muito importante que se pesquise bem antes de buscar qual linha faz mais sentido para suas necessidades e quais instituições são mais inclusivas nesse sentido para evitar cair em algumas armadilhas do mercado de crédito”, ensina a presidente da Seguro Pasi.

Outro aspecto muito discutido no mercado em geral é a falta de incentivo e representatividade feminina em cargos de liderança. Fabiana Resende, por exemplo, mostra-se otimista, porém com ressalvas: “Sem dúvida estamos evoluindo, porém ainda existe um caminho a ser percorrido. Tem empresas que ainda praticam modelos obsoletos de promoção dando preferência a questões de gênero ao invés de modelos baseados em meritocracia e entrega efetiva de resultados. Por isso é muito importante estar atenta a essas questões e se de fato a posição de liderança é um objetivo para a profissional”, avalia.

Fabiana aponta, contudo, para uma “triste realidade” que precisa ser revertida pelas mulheres. “Muitas vezes a crença limitante parte da própria mulher, que se subestima nessa corrida corporativa sem reconhecer quais características de destaque ela possui e que podem impulsioná-la ao invés de estagnar seu crescimento na organização. Por isso, a saúde física, bem como a psicológica e a emocional devem estar sempre em dia para que ela tenha percepção do seu real potencial e não se deixe cair nas armadilhas de desistir antes mesmo de tentar.”

O incentivo à liderança feminina é marcante na Delphos, como argumenta Elisabete Prado: “Não posso tomar a minha própria história como parâmetro para avaliar a falta de incentivo aos cargos de liderança porque isso nunca existiu na Delphos, onde estou há quase 45 anos. Sempre fui muito percebida e reconhecida.”

A experiência que traz da Delphos, Elisabete procura compartilhá-la com outras mulheres do setor segurador. Ela acredita que há evolução da liderança feminina no mercado, mas o caminho a ser percorrido para que isso se consolide ainda é longo. 

“Apesar de distante do ideal, é sabido que mais de 40% dos cargos gerenciais estão nas mãos de mulheres. É um percentual bastante positivo quando comparado com o mercado de trabalho do início deste século. A equidade salarial ainda é um quesito controverso, mas o mercado está avançando também nesse particular, e, cabe a nós, mulheres, entabularmos negociações que conduzam ao respeito do binômio capital versus trabalho”, avalia.

Paula Lopes não tem dúvidas disso. Ela recorre a uma análise da consultoria Bain & Company, com base nas 250 maiores empresas do Brasil, que mostra que a parcela de mulheres CEOs dobrou entre 2012 e 2024, mas ainda continua muito baixa. Já o número de executivas, segundo o mesmo estudo, subiu de 23% para 34%. 

“Acredito que estamos evoluindo, mas precisa de mais intenção das empresas no tema ‘diversidade’. As mulheres possuem qualidades e fortalezas diferentes dos homens e temos que saber o que as empresas buscam. Vejo as mulheres bem focadas em pessoas e clientes, com um engajamento e um nível de entrega bem alto”, assinala.

Ao longo da história, a imagem da mulher está associada ao papel de cuidadora do lar. Isso está mudando, mas lamentavelmente se mantém enraizado em diversas sociedades e culturas, sem exceção, reforçando estereótipos. A expansão da participação da mulher no mercado de trabalho vem ajudando a derrubar esse conceito, mas o fato é que a maioria ainda lida com a jornada dupla, ou seja, o trabalho e a casa, com acúmulo de demandas diárias. Desafios, portanto, na conciliação entre trabalho e vida pessoal, principalmente para mães empreendedoras, são latentes.

“São escolhas, prioridades e equilíbrio. Sinto que as mulheres exercem um papel importante na família e isso acaba as sobrecarregando, mas nada que não consigamos fazer tendo uma boa rede de apoio, flexibilidade e empatia nas empresas para conseguirmos conciliar trabalho e vida pessoal”, diz Paula Lopes.

Para Elisabete Prado, as novas gerações estão levando “muito a sério” o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. “Talvez muito mais do que a minha geração, que foi justamente aquela que teve que iniciar a transição e mudanças nos conceitos da sociedade e precisavam escolher entre uma e outra coisa. Tarefas de casa, que antes eram uma ‘obrigação feminina’, hoje são necessariamente compartilhadas sob pena de os relacionamentos não se sustentarem. Por sua vez, os empregadores hoje são muito mais sensíveis à máxima de que ‘há vida além do trabalho’, pois, caso contrário, correm o risco de não reter talentos ou levar seus times a esgotamentos que, no fim das contas, irão resultar no comprometimento da produtividade”, analisa.

Já Fabiana Resende alega ser esse o da conciliação do trabalho com a vida familiar , o maior desafio para mulheres na busca de crescimento e consolidação profissional. “Eu acredito que a maior barreira que todas as mulheres enfrentam é com elas mesmas para equilibrar todos os papéis que se propõem a desempenhar. Afirmo que a maternidade não é limitador para nenhuma mulher crescer em sua vida profissional, pelo contrário, a força feminina, após se tornar mãe, é surpreendente e pode inclusive ajudar a impulsioná-la em sua carreira, pois nada motiva mais que poder proporcionar uma vida melhor para seus  filhos e sabemos que nos dias atuais apenas um provedor na família acaba limitando as possibilidades e acessos”, diz Fabiana.

Fabiana ressalta ainda que as mulheres devem se desprender de comparações em busca da vida perfeita. “A final, isso acaba sendo uma grande utopia. Muitas mulheres acabam sofrendo de depressão e ansiedade devido à cobrança excessiva, pois buscam em redes sociais ou na mídia referências que não se ajustam à sua própria realidade. Construa uma vida feliz e em equilíbrio pra você, independentemente do que as convenções sociais impõem”, recomenda.

* Matéria Exclusiva da Revista Apólice Edição #306

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